segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Escolhas

Que na vida tudo é uma questão de escolhas todos sabemos. Mas acabei de ver um vídeo que me fez pensar o porquê de algumas escolhas serem tão mais difíceis que outras. Simplesmente porque quando você escolhe algo, está abrindo mão de outras coisas que podiam ser vividas. E não é tão simples quanto pegar um papel e listar os benefícios e os sacrifícios que cada caminho tem para oferecer que vai ajudar porque muitas escolhas não são tão racionais. Não podem ser tão racionais. E mesmo que você tenha mil motivos para não escolher um caminho, se seu coração te diz que mesmo assim esse é o seu caminho, por que não tentar?
Tem escolhas que não são fáceis, mas que te fazem um bem tão grande que vale à pena. Foi assim quando decidi perdoar a minha mãe. Claro que antes de tudo eu esperei o tempo dela para ela se perdoar. Foram 30 anos. Mas perdoei. E não me arrependo.
Há 46 dias eu estou remoendo para mais uma escolha difícil. Eu não tenho e nem quero mais esperar 30 anos. Ambos os lados me trarão coisas boas e perdas. Mas esse deserto eu preciso atravessar sozinha.
Ora, no auge dos meus 35 anos, eu já sei o que me faz bem e o que me faz mal ou o perfil de pessoas que me fazem bem ou mal. Eu já estive no fundo do poço e foi lá que eu mais aprendi porque os melhores ensinamentos vêm no fracasso e não no sucesso.
Eu me orgulho muito do que sou e onde estou hoje. Hoje não me considero apenas engenheira, hoje eu sou uma realizadora de sonhos. Dos meus sonhos. Eu quis ser engenheira desde pequena, e faz 12 anos que me formei em engenharia, eu quis morar sozinha e há 11 anos eu tenho um lar para chamar de meu, eu quis assumir uma gerência antes dos 35 anos (lembro que sempre o RH me fazia perguntas do tipo: o que você quer ser em 5, 10, 15 anos e eu sempre respondia que queria assumir uma gerência antes dos 35), eis que aos 33 anos, mais este sonho foi realizado. Eu tinha algo que também queria há anos e eu sempre colocava empecilhos: eu queria morar em outro país. Mas para uma pessoa que já teve tantas perdas é difícil largar tudo e ir tentar a vida em outro lugar com uma filha pequena. Eu sempre imaginava o que seria da minha filha se algo acontecesse comigo e ela estivesse sozinha, pequena, em um lugar que não tinha família e falando uma outra língua.... Esse era mais um obstáculo que eu mesma colocava entre eu e meu sonho.
Mas hoje estou aqui, do outro lado do mundo, com minha filha. Ela, por sinal, se adaptou mais rápido do que eu.  Todos os dias traz uma novidade da escola nova, sempre muito empolgada porque ela também está se desafiando. Ora, “se fizermos apenas o que sabemos, jamais seremos melhor do que já fomos um dia”
Então por que o medo de uma escolha? Por que demorar 46 dias e ainda não saber que decisão tomar se tantas outras mais complexas já foram tomadas e já foram vencidas? O barco é meu e eu escolho quem vai entrar dentro dele e escolho que direção remar meu remo.


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Meu mundo cor de rosa acinzentado

Eu devia ter em torno de 5 anos. Estava voltando da aulinha de balé com o motorista e meu irmão mais velho (que voltava da aula de judô). Eu estava sentada no banco da frente, ao lado do motorista (estamos falando de 1988, não existiam regras de cadeirinha para criança, nem mesmo criança só no banco de trás e com cinto), eu só estranhei porque ele mandou eu ir na frente e não o meu irmão, afinal, ele era o mais velho e era o homem (sim, essa diferença entre homens e mulheres tinha nessa época, não importava a idade).
Morávamos longe da cidade, em uma vila dos funcionários de uma usina. Então passávamos sempre por estradas não povoadas. Era noite, meu irmão queria fazer xixi. O motorista, então, parou o carro e meu irmão desceu para fazer perto do mato. Eu continuei no carro. Lembro que no meu colo estava um saco de leite gelado recém comprado na padaria (sim, saco plástico, não era caixa de leite longa vida de hoje em dia). Foi aí que senti a mão do motorista entre meu corpo e o leite. Pegou na minha genitália e nas minhas pernas. Eu estava tensa, nervosa, não sabia o que fazer. Não entendia o que era aquilo, mas que eu não gostava nem um pouco do que estava acontecendo.
Não lembro mais do que aconteceu depois disso, afinal, foram 30 anos atrás. Mas o que sei (e que não imaginava naquela época) é que isso me marcaria negativamente por muitos anos. Quando eu era adolescente, estava em um cinema no centro da cidade (nessa época eu já morava em cidade grande) eu estava sentada assistindo a um filme e percebi que um homem ao lado estava com um espelho tentando olhar entre minhas pernas. Eu podia ter gritado, ter jogado algo nele, ter feito qualquer coisa, mas não consegui mais nada além da inércia.
Minha adolescência foi bem complicada. Tive muitos problemas com minha mãe. Na verdade, desde a infância eu já sentia o tratamento diferenciado dela entre eu e meus irmãos, principalmente com o mais velho. Lembro de todas as vezes ela sequer me ouvir e escolher apoia-lo, sempre parcial. Isso me marcou muito. Eu não me sentia amada por ela e inúmeras vezes pensei que eu fosse filha de algum caso extraconjugal do meu pai e por isso ela me detestava daquela forma, mas éramos tão semelhantes fisicamente que essa hipótese não se encaixava.
Não sabia eu que essa ausência de amor da minha mãe iria também influenciar em todos os meus relacionamentos. Eu sempre tive medo de me entregar por completo a alguém, ora bolas, se a minha própria mãe, que era para ser meu vínculo de confiança, era a primeira a jogar a pedra, em quem mais eu confiaria?
Mas eu tinha um pai maravilhoso... e todas as vezes que eu sentia inveja das minhas amigas com as mães carinhosas e cuidadosas, eu lembrava que o meu pai era o melhor de todos, sem comparações. Sabia que Deus era justo. Ele não me daria um pai daqueles sem me dar nada com que aprender em troca.
Foi então que, em 2002, meu mundo desabou.
Meu pai, que sempre esteve presente, mesmo viajando mundo a fora a trabalho, não voltaria mais. Eu havia falado com ele na noite anterior porque eu estava doente e só ele conseguiria me dar o dengo que eu precisava, mesmo que por telefone. Fui dormir. Acordei com minha mãe e meus padrinhos no meu quarto me dando a notícia que meu pai tinha falecido no México. Eu quis quebrar tudo, quis me jogar, quis me quebrar. Culpei minha mãe, claro. Oras, meu pai havia pedido o divórcio, eu já estava morando com ele (e feliz da vida por me sentir bem em casa pela primeira vez), mas como ele foi viajar, eu tive que ir para a casa da minha mãe e foi lá que recebi a notícia.
Após meu pai pedir a separação, minha mãe não conseguia mais fingir a mãe boazinha. Ela descaradamente mostrou que seria capaz de tudo para conseguir o que queria. Ela ameaçou matar os 3 filhos com uma peixeira se meu pai não voltasse para casa e chegou a colocar fogo em casa com os três filhos dentro. Foi aterrorizante. Então, depois de tudo isso que eu estava vivendo, receber a notícia que eu não teria mais meu protetor por perto foi devastador. Ele faleceu longe de todos que o amava. Ele era tão saudável, tinha emagrecido, estava fazendo exercícios regularmente, estava no auge dos seus 48 anos, mas sofreu um infarto fulminante.
Pior que perder seu pai e morar na mesma casa que uma mãe que ameaçou te matar por ele é ouvir ela dizer diariamente que “Deus é muito bom comigo, tirou o mal que havia nesta casa”. Se alguma mãe estiver lendo esse texto, jamais, eu disse JAMAIS, seja tão insensível e egoísta com seus filhos.
Quando eu estava recomeçando minha vida, longe de uma pessoa doentia, morando em outro estado, viajando para a Russia pelo meu mestrado, recebo uma ligação. Era sobre meu irmão mais velho. Ele havia se suicidado. Socorro, muita dor de uma vez só. Eu estava grávida, 3 meses, recém separada do pai da minha filha, querendo o colo do meu pai... mas eu não tinha mais pai, não tinha mais meu irmão mais velho, o chão que eu estava reconstruindo era de papel. Meu mundo cor de rosa estava cinza de novo e eu não conseguia mais enxergar.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Comer, Rezar e Amar

Claro que eu vou dar esse título ao meu primeiro post. Sempre quis registrar minhas loucuras mentais, comumente chamadas de pensamentos, mas só depois deste filme eu senti o empurrão. Entre a elaboração do blog ao primeiro post, já se passaram alguns dias. Mas minha preguiça nada tem a ver com minhas vontades, só com minhas ações.
“Comer, Rezar e Amar”. Esse título sempre me perseguiu. Lembro que, em meados de 2007, fui assaltada. Ao entrar na delegacia para fazer o B.O., a vaca, sem o perdão da palavra, da delegada estava lendo esse livro. Ela não tirava o olho do livro, mal olhava para mim e ainda me mandou ir para outra delegacia. Pensei “que merda de livro é esse? Deve ser mais um daqueles livros de autoajuda bizarros que só as pessoas fracassadas têm saco, e coragem, para ler.”
A partir daí, virou epidemia.... Sempre esbarrava com alguém que estava com esse bendito livro... e ele ainda virou Best-seller. Curioso... Mas eu ainda estava muito envolvida com meu mestrado e eu tinha que, antes de mais nada, esquecer a cara daquela F%$%$%#% da delegada.
Até que, lançaram o filme. Bom, filme é algo que não dispenso. Livro também, mas eu já havia aberto uma exceção. Até que, conversando com uma desconhecida que se ofereceu para pagar um sorvete para mim (que gentileza), conversávamos sobre coisas tão interessantes e eu estava vidrada em tudo aquilo que ela falava e ela retribuía se mostrando extremamente interessada na minha história, como se nada mais importasse. Foi aí que veio a surpresa, ela falou: “você já viu o filme Comer, Rezar e Amar?” “Não, por quê?” “É a sua cara”.
Como alguém que me conheceu em poucos minutos (deve ter passado de 60 :D), já ousa falar o que tem a minha cara? Mas esse não foi meu primeiro pensamento, foi o segundo. O primeiro vocês já imaginam. Eu tinha que ver esse filme.
E fui. Com meu namorado. Não deu outra, poucos dias depois eu terminara com ele.
Eu tenho uma amiga que está louca para casar. Namora há 2 anos com o cara mais cachorro que já tive o desprazer de conhecer, sabe que ele é a pior coisa que ela poderia arrumar, mas se vê perto dos 40 e acha que está perdendo a validade para ter um filho. Eu tive a sorte de ter me envolvido com pessoas maravilhosas (salvo algumas raras exceções) e, por qualquer coisa (às vezes até por nada) eu terminava. Porém quando começava com outro, via que os defeitos do anterior eram tão mais aceitáveis. E isso não é só para relacionamentos. Acho que eu tenho como razão de ser. Resolvi tentar diferente e insisti no novo trabalho, no novo namorado, na nova cidade (sim, já me mudei várias vezes) achando que isso era encontrar meu equilíbrio. E se a instabilidade me deixasse estável? Fugir de nós mesmo é nadar contra a correnteza. Alguns conseguem... Eu prefiro me respeitar.
Uma vez eu li que para crescer, temos que conquistar. Só não explicaram como administrar as conquistas. Conquistas mal administradas serão números e não escada.